Empreendedorismo

Ser um empreendedor significa, simplesmente, que você tem certa aptidão para IDENTIFICAR problemas, questões ou falhas dentro de uma lógica, de uma sociedade ou local em que está ou conhece, e, a partir daí, PROPÕE melhorias, mudanças e soluções. Seja para as outras pessoas, para VOCÊ mesmo, ou para clientes internos e externos.
Isso não quer dizer que necessariamente você tenha que abrir sua própria empresa, é possível que você seja um INTRA EMPREENDEDOR — uma pessoa que IDENTIFICA e PROPÕE dentro de uma instituição, da sua casa ou da empresa em que trabalha — e isso também fará de você um empreendedor. Outra possibilidade é que você tenha o seu próprio negócio, seja ele em tempo integral ou conciliando com outro trabalho. Nesse caso, além de empreendedor você será um empresário, em diferentes escalas e tamanhos — pode ser que tenha funcionários e uma equipe para te ajudar ou uma tarefa que você desenvolve de maneira solitária, onde, você estará envolvido com todas as etapas do seu projeto, desde a idealização, coordenação, até a execução em geral e terá de fazer com que isso renda lucros.
Por muito tempo, a cultura brasileira não fortaleceu muito esse comportamento empreendedor, pois se tinha muito mais eminente o discurso de que o ideal para uma carreira de sucesso fosse "a segurança, um cargo público ou concursado onde você não seria demitido nunca, ou ainda de que as profissões boas apenas seriam as de MÉDICO, ADVOGADO ou ENGENHEIRO” e, infelizmente, isso fez com que o pensamento empreendedor fosse pouco incentivado, dando lugar a  questão do: "faça sua parte, ganhe dinheiro e não se iluda com a ideia de que neste pais você vai conseguir fugir disso", o que é uma pena, afinal, esse tipo de pensamento impede muitas pessoas de — ao menos tentarem — realizar seus sonhos profissionais mandando milhares de brasileiros para países do exterior e mantendo trabalhadores infelizes em empregos que odeiam. Porém, não sejamos ingênuos, afinal dentro de um contexto de pobreza, nenhum desses conceitos se aplica e a “realização do sonho profissional” acaba sendo o de colocar comida na mesa e manter o básico das necessidades da família.

Bem, sigamos falando do empreendedorismo, ao longo dos tempos as habilidades técnicas e emocionais, mais que necessárias para esta atividade, e o real significado de ser um empreendedor passaram a ser pouco encorajadas, visto que, geralmente quem fala de empreender traz uma certa glamourização do termo "Seja seu próprio chefe, esta é a solução dos seus problemas. Se você se esforçar muito, você vai conseguir", mas, no fim do dia, isso nem sempre é verdade, da mesma maneira tem quem fale sobre empreender com certa dose de sofrência "Coitados dos empreendedores que carregam um peso nas costas", e tem ainda o pessoal da velha guarda que acredita que o patrão é o inimigo dos funcionários, cujo principal desejo é explorar as pessoas para obter lucro. Dentro dessas três formas de pensar, a último é a mais compreensível, pois durante muito tempo, dentro de uma lógica capitalista, essa foi a forma de pensar mais comum, e até hoje devem existir milhares de empreendedores que pensam desse jeito.
Outro mito que ronda o empreendedorismo é que ele é a ÚNICA forma de alcançar os SEUS objetivos pessoais e profissionais, tem até uma frase que diz “Se você não trabalhar pelos seus sonhos, alguém vai te contratar para que você trabalhe pelos sonhos dele” e isso, na minha humilde opinião, também é algo que deveria ser superado. Mesmo que ainda existam empresários dessa “velha guarda” neste sistema, existem muitos outros que já trabalham com outro modelo de pensamento. Afinal, a valorização da equipe, treinamento e alinhamento das pessoas que formam uma empresa é uma parte importante para qualquer empreendedor que busca uma qualidade real em seu negócio. Já as pessoas que trabalham dentro de uma instituição, além trabalharem pelos objetivos da empresa, também têm espaço para alcançarem seus objetivos pessoais simultaneamente aos da empresa, isso, claro, se a instituição tiver responsabilidade, se seus objetivos estiverem minimamente alinhados com a empresa e existir de ambos os lados um pouco de boa vontade.

Explanando todas essas nuances e possibilidades do empreendedorismo, vamos nos ater à opção de gerar um negócio. Como já disse, isso significa que você estará envolvido com todas as etapas daquela operação, um erro comum do empreendedor é o de pensar que o TRABALHO dele é o mesmo que sua FUNÇÃO, afinal, quando você entra em uma empresa geralmente recebe uma lista de atribuições (as coisas que dizem respeito a você dentro daquela instituição), essas são geralmente divididas por áreas para que quando segregadas, sejam de mais fácil execução, e isso é o que chamamos PROFISSÃO. Quando uma pessoa faz faculdade de pedagogia, por exemplo, ela aprende as questões condizentes a este trabalho (o dia a dia em sala de aula, como ensinar, as fases do aprendizado, as metodologias possíveis, como fazer pesquisa, etc.), mas no empreendedorismo isso é infinitamente mais amplo.
Toda a responsabilidade acerca daquele negócio (serviço, local, equipe, atendimento, fluxo de caixa, tributos, pagamentos, qualidade, gerenciamento, vendas, divulgação, público, etc.) é do empreendedor. As atribuições, nesse caso, vão para o espaço, elas simplesmente não existem, e por mais que você DELEGUE as partes do negócio que você não é bom ou que precisa de ajuda, a RESPONSABILIDADE disso tudo, ainda é sua. Você precisa ter noção de tudo e estar minimamente envolvido em tudo, pelo menos no início ou, se você é empreendedor individual, por ainda mais tempo.
Neste momento algumas pessoas podem pensar assim: "eu sou professora, não quero aprender sobre negócios" ou "sou engenheiro não quero saber sobre vendas", e está tudo bem, sem problemas, ninguém é obrigado, mas, nesse caso, você deveria procurar um emprego comum, não dá para empreender com esse padrão de pensamento. Logo, não tem como ter as mesmas regalias de quem é dono do seu próprio negócio, não terá as mesmas responsabilidades também daquele que optou por captar clientes, liderar e principalmente arriscar investindo tempo e dinheiro no seu empreendimento, até porque, o empreendedor que sai na frente é justamente aquele que faz mais ou faz diferente — o famoso “pensar fora da caixa”.

Por fim, aqui está a dor e a beleza do livre mercado, que é:  ter um bom produto, fazer diferente ou até fazer melhor do que seus concorrentes e isso, dentro do empreendedorismo, não significa garantia de SUCESSO. Muitas vezes não adianta ser bom no que faz, pois, talvez você não seja bem pago por isso; talvez você venda bem, mas seu serviço não é valorizado ou bom; talvez seu produto seja o MELHOR e mesmo assim você não tenha reconhecimento. Isso pode parecer injusto e muitas vezes o empreendedor parece andar em círculos se perguntando "mas então qual é o problema? O que devo fazer para ganhar mais ou me destacar?", bem, existem muitas respostas e diferentes pontos de vista para essas perguntas, mas a beleza disso é que existe espaço para todos e, se você não for o que ganha mais, também não precisa ser o que ganha menos. O McDonald's, por exemplo, não é o que tem o melhor hambúrguer e nem o que vende mais caro, mas, mesmo assim é o líder no ramo de alimentação (talvez pela questão imobiliária...? Bem, isso daria outro artigo inteiro...) e a questão aqui é que VOCÊ É LIVRE, e liberdade assusta, nem sempre é confortável, mas te permite fazer do SEU JEITO, então que seja satisfatório e traga o lucro desejado.
O fato é que EMPREENDER, apesar de não poder ser usada como ferramenta de isenção do estado em relação aos direitos básicos do trabalhador, nem negligência tributária, no fim do dia, mesmo sendo um grande desafio, também se torna uma grande oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional, de gerar empregos e propor soluções para toda uma comunidade. É uma opção para os ousados e, no fim, empreender é uma arte, um trabalho que não deve ser menosprezado e nem romantizado ou glamourizado, mas tratado com respeito e seriedade que todo trabalhador e/ou sonhador merece.
Quer saber mais sobre isso ou continuar essa conversa em outros níveis? Acompanhe o podcast da DMS que dedicou um de seus episódios especialmente sobre este tema — ouça nas principais plataformas de áudio disponíveis no seu celular  (^w^)

Josiane Scharneski